Problemática da cartografia dos depósitos quaternários

  • Bernardo Barbosa
  • António Barra
Keywords: Terraços quaternários, Altimetria, Soerguimento, Basculamento

Abstract

Os mapas geológicos nacionais mostram, geralmente, os depósitos de terraço do Quaternário escalonados, em forma de degraus. A cartografia destes depósitos inicia-se, praticamente, à cota imediatamente abaixo dos 100 metros de altitude (identificada com a base dos depósitos do Pliocénico); seguidos dos depósitos dos 90 - 80 m (designados por Q1); depois vêm os dos 70 - 60 m (Q2 u); seguem-se os dos 50 - 45 m (Q2 b); os depósitos dos 40 - 30 m (Q3) e assim, sucessivamente, terminando nos Q4, normalmente desdobrados em depósitos a cotas dos 20 - 15 m (Q4) e dos 10 - 5 m (Q4 b ), totalizando 6 terraços edificados nas fases interglaciares, separados por 6 intervalos correspondentes às fases glaciares.

Assim como para as outras unidades, as siglas utilizadas para os terraços do Quaternário (associadas às respectivas cotas), tinha significado cronoestratigráfico.

O mapa geológico de Vagos, na escala 1150 000, foi a primeira carta a ser editada pelos SGP com legenda litoestratigráfica. No entanto, o critério altitudimétrico persistiu na cartografia dos depósitos quaternários deste mapa, com fins de correlação cronoestratigráfica, seguindo o da folha vizinha de Aveiro, a norte. Porém, no mapa de Cantanhede, contíguo para sul ao de Vagos, introduz-se já o critério  litoestratigráfico nos depósitos de terraços, com referência à altimetria.

O Pliocénico do baixo rio Vouga, especialmente da área de Águeda-Oiã apresenta «subsidência relativa». Para o período de tempo de 3 Ma (Pliocénico superior - Placenciano) calcula-se uma taxa média de subsidência de 0,1 mm por 10 anos. Este valor corresponde a taxas de fluência cerca de 10 vezes inferiores às calculadas para soerguimento gerador dos intervalos de escalonamento entre os vários terraços (10m /100 Ka=1 mm / 10 anos).

O soerguimento continental (à taxa de 10m/100Ka) seria responsável pelo escalonamento dos vários níveis de terraços. Mas, para taxas de soerguimento mais elevadas, parece não ser possível obter qualquer depósito, por falta de capacidade de acomodação de sedimentos e também por aumento de energia potencial. Em vez de deposição ter-se-ía progradação, erosão, encaixe e ou ravinamento (ex. rio Douro, a montante de Castelo de Paiva; ilhas Atlânticas, Rias Galegas, etc.).

A disposição continua ou imbricada de terraços (na definição de aparentes plataformas) pode dever-se a taxas moderadas de soerguimento c/ou basculamento relativo.

Para se dar a inversão estratigráfica da disposição dos terraços quaternários, seria necessário obter taxas de «basculamento» ou afundimento tectónico semelhantes ou superiores às velocidades instantâneas reconhecidas em restritas regiões do Globo (muito superiores a 1 a 2 mm/ 10 anos).

Em cartografia a caracterização sedimentológica, nomeadamente litoestratigráfica, constituiu um critério auxiliar de equivalência e de diferenciação estratigráficas, que deve prosseguir, com referência à altimetria.

Mas, as siglas clássicas utilizadas com significado cronoestratigráfico devem ser abandonadas e substituídas por outras com carácter e significados litoestratigráficos.

Os critérios litoestratigráficos não possuem qualquer capacidade de correlação cronoestratigráfica e, por isso, terão de ser, naturalmente, complementados e cruzados com outros critérios, nomeadamente, paleontológicos, arqueológicos e de datação absoluta.

Downloads

Download data is not yet available.
Published
2000-12-21
How to Cite
Barbosa, B., & Barra, A. (2000). Problemática da cartografia dos depósitos quaternários. Estudos Do Quaternário / Quaternary Studies, (3), 15-20. https://doi.org/10.30893/eq.v0i3.25
Section
Articles